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De tudo que é nego torto 00:00

Do mangue, do cais, do porto 00:02

Ela já foi namorada 00:03

O seu corpo é dos errantes 00:05

Dos cegos, dos retirantes 00:06

É de quem não tem mais nada 00:08

Dá-se assim desde menina 00:10

Na garagem, na cantina 00:12

Atrás do tanque, no mato 00:14

É a rainha dos detentos 00:15

Das loucas, dos lazarentos 00:17

Dos moleques do internato 00:19

Mas também desce amiúde 00:21

Aos velhinhos sem saúde 00:23

E às viúvas sem porvir 00:25

Ela é um poço de bondade 00:27

E é por isso que a cidade 00:28

Vive sempre a repetir 00:30

Joga pedra na Geni 00:32

Joga bosta na Geni 00:35

Ela é feita pra apanhar 00:36

Ela é boa de cuspir 00:38

Ela dá pra qualquer um 00:40

Maldita Geni 00:41

Um dia surgiu, brilhante 00:43

Entre as nuvens, flutuante 00:45

Um enorme zepelim 00:46

Pairou sobre os edifícios 00:49

Abriu dois mil orifícios 00:51

Com dois mil canhões assim 00:52

A cidade apavorada 00:54

Se quedou paralisada 00:56

Pronta pra virar geleia 00:58

Mas do zepelim gigante 01:01

Desceu o seu comandante 01:02

Dizendo: Mudei de ideia 01:05

Quando vi nesta cidade 01:08

Tanto horror e iniquidade 01:10

Resolvi tudo explodir 01:12

Mas posso evitar o drama 01:14

Se aquela formosa dama 01:15

Esta noite me servir 01:17

Essa dama era Geni 01:20

Mas não pode ser Geni 01:21

Ela é feita pra apanhar 01:23

Ela é boa de cuspir 01:25

Ela dá pra qualquer um 01:27

Maldita Geni 01:29

Mas, de fato, logo ela 01:31

Tão coitada, tão singela 01:33

Cativara o forasteiro 01:35

Um guerreiro tão vistoso 01:38

Tão temido e poderoso 01:39

Era dela prisioneiro 01:41

Acontece que a donzela 01:44

E isso era segredo dela 01:44

Também tinha seus caprichos 01:47

E a deitar com homem tão nobre 01:50

Tão cheirando a brilho e a cobre 01:52

Preferia amar com os bichos 01:55

Ao ouvir tal heresia 02:02

A cidade em romaria 02:03

Foi beijar a sua mão 02:05

O prefeito de joelhos 02:07

O bispo de olhos vermelhos 02:09

E o banqueiro com um milhão 02:10

Vai com ele, vai Geni 02:13

Vai com ele, vai Geni 02:15

Você pode nos salvar 02:16

Você vai nos redimir 02:17

Você dá pra qualquer um 02:20

Bendita Geni 02:22

Foram tantos os pedidos 02:25

Tão sinceros, tão sentidos 02:27

Que ela dominou seu asco 02:30

Nessa noite lancinante 02:33

Entregou-se a tal amante 02:35

Como quem dá-se ao carrasco 02:37

E ele fez tanta sujeira 02:41

Lambuzou-se a noite inteira 02:41

Até ficar saciado 02:44

E nem bem amanhecia 02:48

Partiu numa nuvem fria 02:51

Com seu zepelim prateado 02:52

Num suspiro aliviado 02:57

Ela se virou de lado 03:00

E tentou até sorrir 03:02

Mas logo raiou o dia 03:05

E a cidade em cantoria 03:07

Não deixou ela dormir 03:10

Joga pedra na Geni 03:12

Joga bosta na Geni 03:14

Ela é feita pra apanhar 03:15

Ela é boa de cuspir 03:17

Ela dá pra qualquer um 03:19

Maldita Geni 03:20

03:24

Geni e o Zepelim

Por

Letícia Sabatella

Álbum

Alma Boa De Lugar Nenhum

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Letra:

[Português]

De tudo que é nego torto

Do mangue, do cais, do porto

Ela já foi namorada

O seu corpo é dos errantes

Dos cegos, dos retirantes

É de quem não tem mais nada

Dá-se assim desde menina

Na garagem, na cantina

Atrás do tanque, no mato

É a rainha dos detentos

Das loucas, dos lazarentos

Dos moleques do internato

Mas também desce amiúde

Aos velhinhos sem saúde

E às viúvas sem porvir

Ela é um poço de bondade

E é por isso que a cidade

Vive sempre a repetir

Joga pedra na Geni

Joga bosta na Geni

Ela é feita pra apanhar

Ela é boa de cuspir

Ela dá pra qualquer um

Maldita Geni

Um dia surgiu, brilhante

Entre as nuvens, flutuante

Um enorme zepelim

Pairou sobre os edifícios

Abriu dois mil orifícios

Com dois mil canhões assim

A cidade apavorada

Se quedou paralisada

Pronta pra virar geleia

Mas do zepelim gigante

Desceu o seu comandante

Dizendo: Mudei de ideia

Quando vi nesta cidade

Tanto horror e iniquidade

Resolvi tudo explodir

Mas posso evitar o drama

Se aquela formosa dama

Esta noite me servir

Essa dama era Geni

Mas não pode ser Geni

Ela é feita pra apanhar

Ela é boa de cuspir

Ela dá pra qualquer um

Maldita Geni

Mas, de fato, logo ela

Tão coitada, tão singela

Cativara o forasteiro

Um guerreiro tão vistoso

Tão temido e poderoso

Era dela prisioneiro

Acontece que a donzela

E isso era segredo dela

Também tinha seus caprichos

E a deitar com homem tão nobre

Tão cheirando a brilho e a cobre

Preferia amar com os bichos

Ao ouvir tal heresia

A cidade em romaria

Foi beijar a sua mão

O prefeito de joelhos

O bispo de olhos vermelhos

E o banqueiro com um milhão

Vai com ele, vai Geni

Você pode nos salvar

Você vai nos redimir

Você dá pra qualquer um

Bendita Geni

Foram tantos os pedidos

Tão sinceros, tão sentidos

Que ela dominou seu asco

Nessa noite lancinante

Entregou-se a tal amante

Como quem dá-se ao carrasco

E ele fez tanta sujeira

Lambuzou-se a noite inteira

Até ficar saciado

E nem bem amanhecia

Partiu numa nuvem fria

Com seu zepelim prateado

Num suspiro aliviado

Ela se virou de lado

E tentou até sorrir

Mas logo raiou o dia

E a cidade em cantoria

Não deixou ela dormir

Joga pedra na Geni

Joga bosta na Geni

Ela é feita pra apanhar

Ela é boa de cuspir

Ela dá pra qualquer um

Maldita Geni

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Vocabulário nesta música:

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Vocabulário	Significados
corpo /ˈkoɾpu/ A1	noun - corpo
cidade /siˈdadʒi/ A1	noun - cidade
pedra /ˈpɛdɾɐ/ A1	noun - pedra
dia /ˈdʒi.ɐ/ A1	noun - dia
noite /ˈnoj.tʃi/ A1	noun - noite
amar /aˈmaɾ/ A2	verb - amar
bom /ˈbõ/ A2	adjective - bom
feitos /ˈfej.tus/ A2	adjective - feitos
maldição /maw.diˈsa.õ/ B1	noun - maldição
nuvens /ˈnu.vẽs/ B1	noun - nuvens
gigante /ʒiˈɡɐ̃.tʃi/ B1	adjective - gigante
bondade /bõˈdadʒi/ B2	noun - bondade
horror /ˈɔ.ʁoɾ/ B2	noun - horror
formosa /foɾˈmo.zɐ/ C1	adjective - formosa
iniquidade /i.ni.kiˈda.dʒi/ C1	noun - iniquidade